o Confidencial

de maneira cíclica, aparecem informações de que a picada de uma aranha provocou uma estranha infecção em um ser humano que lhe causou uma grave patologia, que pode ir desde a amputação de um membro até, inclusive, a morte. Em muitos casos, trata-se de informações errôneas que se tornaram virais pelo simples fato da aracnofobia que muitas pessoas sofrem no mundo. No entanto, uma equipe de especialistas tentou analisar se essas situações eram possíveis e descobriu que há uma aranha que pode fazer isso: a nobre falsa viúva negra.

a ‘Steatoda nobilis’, mais conhecida como nobre falsa viúva negra, curiosamente, trata-se de uma aranha originária das Ilhas Canárias e da Madeira, mas que, nos últimos anos, chegou a outros pontos do continente europeu, especialmente ao Reino Unido. Nos últimos meses, os tablóides britânicos divulgaram informações atribuindo a este aracnídeo algumas doenças sofridas por seres humanos e, diante desta situação, uma equipe de cientistas da Universidade de Galay (Irlanda) decidiu realizar um estudo para tentar demonstrar se esta situação era verdadeira ou, pelo contrário, não era mais que um bulo.

para isso, tomaram amostras de 10 espécies de aranhas diferentes, muito comuns na Europa, com as presas suficientemente longas e fortes para gerar um problema no ser humano depois de inocular seu veneno. “Desta dezena de aranhas, apenas a falsa vida negra é considerada de importância médica”, explica John Dunbar, da Universidade de Galway. Ou, dito de outra maneira, os especialistas confirmaram que a picada destas aranhas não geravam nenhum potencial perigo para o ser humano pero mas descobriram algo com que não contavam.

neste estudo, publicado na Nature, descobriram que, na grande maioria dos casos, a picada da falsa viúva negra não provoca uma reação de gravidade. Na verdade, a maioria das vezes que este animal pica um ser humano acaba com uma pequena picada na área afetada ou, no máximo, com alguma rigidez no membro afetado que não dura mais de 24 ou 48 horas, ou seja, efeitos muito semelhantes aos que uma simples vespa pode causar. Mas, com certeza, eles descobriram que há uma série de casos em que a situação pode certamente ser mais grave.

os especialistas procuravam demonstrar que as bactérias com as quais contam este tipo de aranhas em suas presas não eram transmissíveis ao ser humnao, mas que eram utilizadas pela própria aranha para manter suas presas estéreis e, assim, tornar efetiva sua picada. Mas nada mais longe da realidade: “nosso estudo demonstra que as aranhas não são apenas venenosas, mas também são portadoras de matérias perigosas capazes de produzir infecções graves”, explica Neyaz Khan, microbiologista da Universidade Galway, em comunicado.

a nobre falsa viúva negra. (CC / Wikimedia Commons)

é importante destacar que, em muitos casos, os culpados de que esta situação seja perigosa são os próprios seres humanos, pois às vezes essas bactérias inoculadas são inofensivas até que decidimos coçar a área afetada com nossas unhas e, às vezes, a falta de higiene de nossas mãos é a que faz com que se gere uma infecção importante. Mas em outros casos é verdade que a falsa viúva negra é capaz de transportar em suas presas uma série de bactérias que são consideradas resistentes aos antibióticos.

mais uma vez, neste caso, os culpados são os seres humanos que, por causa de nossa dependência excessiva do uso do antibiótico, fizemos com que uma série de bactérias fossem resistentes a esses medicamentos. “A boa notícia é que a maioria das bactérias poderia ser erradicada com um ciclo de ciprofloxacina, mas a má notícia é que algumas delas são resistentes a múltiplas drogas, o que as torna particularmente difíceis de tratar com medicamentos habituais”, explica Khan.

apesar desta descoberta, os cientistas quiseram enviar uma mensagem de calma à população, assegurando que o risco de que uma aranha nos transmita uma superbactéria é mínimo. É mais possível que sofremos uma infecção por falta de higiene do que pela picada de um aracnídeo. Claro, os especialistas fazem uma menção pública para que os profissionais de saúde levem em conta essas situações e, assim, limitem os riscos de que uma picada dessa aranha possa ter consequências desastrosas.



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